Quasi Analysis by Mário de Sá Carneiro: 2022

O poeta

A breve vida de Sá-Carneiro parece afinal bem longa, não só pelo número considerável dos textos que escreveu (os mais antigos datam de 1903), como também pelo lugar central que, a par de Pessoa, ocupa não só no modernismo mas na poesia do século XX, na qual são múltiplos os ecos da sua obra e dos temas em que se concentrou, nomeadamente os da identidade e da loucura, transversais à prosa como à poesia.
“Quase” faz parte de “Dispersão” (1914) que, juntamente com “Indícios de Oiro” (1937) e “Poesias” (1946), constituem a obra poética de Mário de Sá-Carneiro. Este escritor, nascido em Lisboa em 19 de Maio de 1890, principiou a sua carreira individual como contista (Princípio, 1912, A Confissão de Lúcio, 1914, Céu em Fogo, 1915 ). Em 1913, em Paris, descobre o seu veio lírico. Vai tornar-se um dos três mais importantes poetas modernistas portugueses, com Pessoa e Almada Negreiros, e um excelente poeta, independentemente da geração do Orpheu. Foi ele realmente um dos mentores, fundador e até financiador (com o dinheiro de seu pai enviado para Paris) das duas revistas Orpheu publicadas em 1915, aventura em que teve a companhia de Luís de Montalvor, Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Ronald de Carvalho.

Nos princípios do séc. XX, em plena Grande-Guerra, recebiam-se influências de toda a Europa e estes jovens artistas e escritores, alguns deles vivendo em Paris, como Mário de Sá Carneiro, traziam as novidades literárias e sobretudo plásticas do futurismo e correntes afins. Com a Orpheu procuraram fugir ao conservadorismo da época, em Portugal, e ansiavam agitar as inteligências e as sensibilidades dos “lepidópteros” – termo usado por Sá-Carneiro para designar aqueles que estavam na retaguarda artística ou cultural, em confronto com a modernidade, aqueles que viviam da luz alheia, cativos dela como borboletas. Na Orpheu publicaram as suas peças de escândalo: poesias sem metro em que pretendiam revelar as profundezas do inconsciente sem passar pelo crivo da razão, como era o caso da poesia automática, não corrigida, de pendor surrealista. A publicação da revista desencadeou uma onda de violência e os seus autores eram apontados a dedo nas ruas e chamados “poetas paranoicos”.

Na Orpheu revelaram-se tendências várias, que vão desde a permanência do simbolismo e do decadentismo de Eugénio de Castro e António Nobre, até às mais inovadoras como o futurismo. Sá-Carneiro vai revelar várias destas tendências na sua obra. “Manucure”, um dos poemas escolhidos para o TriploV, é o mais eloquente manifesto do futurismo em Portugal, centrado naquilo a que hoje chamamos “fonts”, e que ele certamente adoraria ver em movimento – são os recursos de uma nova arte que ele explora sem ter praticado, a publicidade, tornada profissão nova, que já Almada Negreiros exerceu, nos seus conhecidos cartazes de cinema.

O poema

Neste poema o sujeito poético faz um balanço de vida negativo, centrado na ideia da frustração de tudo o que foi sonhado, iniciado e não concluído, ou vivido apenas pela metade. Nenhum projeto ou sonho foi realizado, nenhuma meta foi alcançada, sendo que várias vezes esteve lá perto (“quasi”).
O estado de alma deste sujeito varia entre a frustração (“Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim”; “Tudo encetei e nada possuí…”; “Tudo esvaído/Num grande mar enganador de espuma”; “grande sonho despertado em bruma”; “Entanto nada foi só ilusão!”; “Asa que se elançou mas não voou…”) a incapacidade de lutar pelos sonhos (“faltou-me um golpe de asa…”; “Asa que se elançou mas não voou…”) e o sofrimento (“O grande sonho – ó dor! – quase vivido…”; “- Ai a dor de ser – quase, dor sem fim…”).
Em “Quase”, aparece a problemática do Eu e do Outro, típica da modernidade. A cisão entre Eu e o Outro, embora seja comum à geração do Orpheu, neste poeta ultrapassa o domínio da filosofia para se tornar um drama pessoal, experimentado na vivência quotidiana. É ele o motivo central da sua obra, manifesto na crise de personalidade, na inadequação do sentimento ao que desejaria sentir.
Com efeito, em “Quase” manifesta-se este abismo entre o sentimento do que o poeta julga ser e a incapacidade de alcançar o que deseja, agravado pela circunstância de pouco ter faltado para lá chegar. A primeira e última quadras constituem uma chave que explica o motivo da desilusão enunciada no corpo do texto: só por lhe faltar esse “quase” não conseguiu ser feliz, só por um nada julga não ter chegado a onde o sonho o levou. Pouco faltou para ter vivido o amor e a plenitude, tão grande esta que, a alcançá-la, teria transcendido a condição humana para se confundir com o céu e suas divindades – “Um pouco mais de azul – eu era além”. Daí o lamento obsessivo, pois quem não deseja não sofre: “ Se ao menos eu permanecesse aquém…”. Aquém de quê? – aquém do “grande sonho”, e com ele do assombro, da paz, do amor, do triunfo, da paixão, do princípio e do fim, da expansão. Que lhe faltou para chegar onde queria? – não desbaratar os momentos de alma, faltou-lhe pôr altar nos templos adequados, faltou-lhe levar os rios ao mar.

O que domina é o sentimento de não ter cumprido o seu destino. Destino de que, dentro de si, apenas encontra “indícios”. É como se estivesse fechado dentro de si mesmo sem poder chegar ao absoluto – “Ogivas para o sol – vejo-as cerradas”. Porquê tão infeliz? – “faltou-me um golpe de asa”, não foi capaz de chegar lá, estando tão perto. É um drama real, construído como um poema. O drama de ser um falhado na vida, o drama de todas as gerações que se consideram perdidas.

Análise estrutural

Este poema é constituído por 8 quadras, com rima interpolada e emparelhada (esquema rimático abab/caac/adad/effe).
Entre os recursos expressivos usados encontramos a metáfora (“Para atingir, faltou-me um golpe d’asa…”), a interjeição retorica (“Assombro ou paz? Em vão… Tudo esvaído”), as reticencias (“O grande sonho – ó dôr! – quási vivido…”)- que sublinham o estado de desilusão, frustração e abatimento que o balanço de vida provoca no sujeito poético, a apostrofe (“ó dôr!”), a anáfora (“Um pouco”), a repetição (“Quási”) e a interjeição (“- Ai a dôr de ser-quási, dor sem fim… -“).

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