O guardador de rebanhos Analysis by Alberto Caeiro: 2022

Origem do heterónimo

O escritor Fernando Pessoa é muito conhecido pela criação de heterónimos, um deles, considerado o mais importante para o autor, é Alberto Caeiro.
Alberto Caeiro nasceu em Lisboa, em 1889 e morreu em 1915, mas viveu quase toda a sua vida no campo, com uma tia-avó idosa, porque tinha ficado órfão de pais cedo. Era louro, de olhos azuis. Como educação, apenas tinha tirado a instrução primária e não tinha profissão.
Como surgiu este heterónimo? Conta o próprio Fernando Pessoa que “se lembrou um dia de fazer uma partida a Sá-Carneiro — de inventar um poeta bucólico, de espécie complicada, e apresentar-lho, já me não lembro como, em qualquer espécie de realidade. Levei uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num dia em que finalmente desistira — foi em 8 de Março de 1914 — acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive.”
Quando Fernando Pessoa escreve em nome de Caeiro, diz que o faz “por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular que iria escrever.”

Alberto Caeiro é o mestre de Pessoa e dos outros heterónimos, dá especial importância ao ato de ver, mas é sobretudo inteligência que discorre sobre sensações. É o poeta da simplicidade, descreve o mundo sem pensar nele. Apresenta-se como um simples guardador de rebanhos que só se importa em ver de forma objetiva e natural a realidade com a qual contacta a todo o momento. Para Caeiro “pensar é estar doente dos olhos”, por isso pensa ouvindo e vendo, “pensar é não compreender”. Alberto Caeiro é então um poeta de sensações, um sensacionista que só se importa com aquilo que vê. “A sensação é a única realidade para nós”. Este heterónimo de Fernando Pessoa considera que é necessário aprender a não pensar , libertando-se de tudo o que possa prender a apreensão da realidade limpa e concreta das coisas. Tem que se fazer uma “aprendizagem de desaprender”.
Alberto Caeiro demonstra ser um poeta simples, de formação fragmentada, pois tem apenas o “primário”, mas isto não é empecilho. O poeta demonstra um enorme interesse em falar da natureza e tem uma visão diferente dos demais heterônimos, “diversamente do Fernando Pessoa “ele mesmo”, em Alberto Caeiro o “eu” estabelece um diálogo, imaginário, com a Natureza, e nisso mora o seu traço distintivo mais relevante”.

Contexto e estrutura

Este texto abre a obra O Guardador de Rebanhos, constituída por 49 poemas, todos com métrica irregular e verso branco, escrita maioritariamente no dia 8 de março de 1914, o «dia triunfal»
Estamos em presença do verso livre e branco, do tom discursivo próprio da linguagem coloquial, da estrutura livre (aqui um terceto e três quadras), do vocabulário simples, de repetições acentuadas, de aliterações suaves (manifestando a tendência para as coisas simples, próprias do pastor), da personificação dos elementos da natureza (no presente caso, do vento, que é colocado em relevo como participante de destaque, que tudo abrange, do mundo natural em que o pastor vive).

Interpretação

O “Guardador de Rebanhos” apresenta um diálogo entre o guardador de rebanhos e um interlocutor. A primeira (versos 1 ao 3) e terceira estrofes (versos 8 ao 11)  representam a voz do interlocutor e a segunda (versos 4 ao 7) e quarta estrofe (versos 12 ao 15) referem-se aos comentários do guardador de rebanhos.
Um e outro manifestam o seu ponto de vista acerca do vento que passa, que é o mesmo que dizer acerca de tudo o que passa, das coisas que passam. Interessante é que o diálogo gira em torno do vento, logo um dos elementos da natureza que maior mobilidade possui.
O guardador de rebanhos encontra-se à beira da estrada (verso 2), conforme indicado pelo interlocutor. Mas o interlocutor pergunta ao guardador de rebanhos o que o vento diz a ele quando passa.
Nos versos 4 a 6 o guardador de rebanhos responde que, para ele, o vento é apenas o vento, passa como passou antes e passará depois e nada mais. O vento não fala, portanto, não poderia dizer nada a alguém, além de passar como sempre fez e fará. Portanto, para o guardador de rebanhos não há conotação alguma no vento. O vento é vento, no sentido denotado, no sentido real.
Mas o guardador de rebanhos, mesmo pensando que o vento é apenas o vento, pergunta ao interlocutor o que o vento lhe diz.
O interlocutor, que é quem coloca a questão ao guardador de rebanhos, responde na terceira estrofe que o vento é “muito mais do que isso”; “fala-lhe de muitas outras coisas”, no verso 9; “de memórias e de saudades/E de coisas que nunca foram”, nos versos 10 e 11. Já aqui, o interlocutor apresenta uma versão conotativa do vento.
Por exemplo, o sentido conotativo de vento pode ser encontrado num dito popular muito conhecido, e todos que o ouvem, compreendem essa variação: “quem planta vento, colhe tempestades”. A leitura denotativa é improvável. Só a leitura conotativa pode lhe dar sentido: quem complica as situações, sofre grandes prejuízos, pois aquilo que se faz, tem consequências.
Para o guardador de rebanhos, conforme podemos ver nos versos 12 ao 15, o interlocutor nunca ouviu passar o vento, dentro do interlocutor está a mentira, já que ele não vê nas coisas as próprias coisas, mas vai muito mais além. Para o guardador de rebanhos, a sinceridade estará em se ver as coisas tais como são, na sua naturalidade, sem se extrapolarem delas quaisquer segundos sentidos. Não haveria conotação no que diz o vento, apenas denotação.
Pela forma como o diálogo se apresenta, chegamos a ponderar que pelas posições que um e outro assumem, podemos ver no guardador de rebanhos o mestre e no seu interlocutor o discípulo. O discípulo (interlocutor) que interroga o mestre (guardador de rebanhos) e o mestre que instrui o discípulo.

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