O poeta
Abílio Manuel Guerra Junqueiro nasceu no Freixo de Espada à Cinta a 15 de setembro de 1850. Foi alto funcionário administrativo, político, deputado, jornalista, escritor e poeta. Foi também colecionador de arte, viticultor, filósofo…Mas foi sobretudo o poeta mais popular da sua época e o mais típico representante da chamada “Escola Nova”.
Publicou os seus primeiros versos aos 14 anos, corria o ano de 1864. Fez os estudos preparatórios no Liceu de Bragança e frequentou o curso de Teologia da Universidade de Coimbra durante dois anos. Compreendendo que não tinha vocação para a vida religiosa, transferiu-se para o curso de Direito daquela universidade, concluindo-o em 1873. Aderiu aos ideais republicanos em 1891 após o fatídico Ultimatum inglês, no qual a Inglaterra exigia a posse de diversas colônias portuguesas. O espiritualismo e o idealismo tornaram-se marcas de seu estilo. Poeta panfletário influenciado por Vítor Hugo e Voltaire, a sua poesia ajudou criar o ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República.
Guerra Junqueiro iniciou a sua carreira literária de maneira promissora em Coimbra no jornal literário “A folha”, dirigido pelo poeta João Penha, do qual mais tarde foi redactor. Aqui cria relações de amizade com alguns dos melhores escritores e poetas do seu tempo, grupo geralmente conhecido por Geração de 70. Começou desde muito novo a manifestar notável talento poético, e já em 1868 o seu nome era incluído entre os dos mais esperançosos da nova geração de poetas portugueses.
Teve um papel extremamente importante no cenário cultural de Portugal. Foi classificado o “Victor Hugo português” devido à sua importância e foi considerado, por muitos, o maior poeta social português do século XIX. A sua obra poética aborda temas sociais que refletem o panorama da sociedade portuguesa dos finais do século XIX e do início do século XX. O anticlericalismo e o ataque à burguesia corrupta são temas marcantes da obra de Guerra Junqueiro, que apresenta um profundo descontentamento com a decadência de Portugal e com postura do rei Dom Carlos e de toda a dinastia Bragança face ao destino do país. Considerava que Portugal estava entregue a uma monarquia que indiferente ao desenvolvimento do país, e desprovida de moral, porquanto entregue aos interesses ingleses. Junqueiro considerava, portanto, que o país havia entrado numa decadência moral e que só poderia se reerguer quando conseguisse redefinir a sua própria identidade, através da revolução moral.
Morreu em Lisboa a 7 de julho de 1923, com o sonho de uma casa onde pudesse expor todos os objetos que colecionou ao longo da sua existência e um maravilhoso espólio literário.
O poema
“Regresso ao lar” um dos mais belos e conhecidos poemas deste poeta. Foi publicado no livro Os Simples em 1892.
O sujeito poético recorda aqui o seu passado com saudade, um passado onde tudo era perfeito, onde os sonhos existiam. Recorda também a sua infância e o lar feliz onde viveu. Relembra a sua ama que simboliza o carinho e o amor que não voltou a encontrar. Compara o presente com tudo o que já viveu, todas as deceções que sofreu no passado e fica triste por ter um dia deixado “o amado lar”, a sua casa.
Apesar de realista, neste poema Guerra Junqueiro apresenta aspetos de espiritualidade, lembrando o Romantismo e prenunciando características do Simbolismo. Há certo saudosismo da infância e de tempos vindouros.
Neste poema, o desabafo é clara e marcadamente autobiográfico, como é visível em: “Como antigamente, no regaço amado, / (Venho morto, morto!…) Deixa-me deitar! / Ai, o teu menino como está mudado! / Minha velha ama, como está mudado/ Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!…”.
Por outro lado, o poema de Guerra Junqueiro trata de uma experiência que foi vivida, de algum modo e frequentemente, por qualquer homem, no passado, no presente e no futuro. De resto, na literatura ocidental, Homero foi provavelmente o primeiro poeta a relatar na Odisseia o mais famoso regresso ao lar: o de Ulisses a Ítaca.
Este poema retrata perfeitamente o sentimento de partida e regresso que gerações e gerações de portugueses enfrentam com a emigração. Gentes que partem de suas terras, e que regressam anos depois, já velhos. Ou pessoas que partem do interior para as cidades, em busca de uma vida melhor, e que pouco ou nunca visitam a sua terra natal.
A segunda e terceiras estrofes representam também na perfeição as dificuldades, angustias e amarguras de quem se submete ás vontades de um país estranho, que não o seu. Transpondo para a atualidade, quantos de nós conhecemos alguém que viveu fora, mas que foi enganado, roubado, agredido por promessas vãs de um futuro brilhante, de uma vida desafogada? Quantos de nós foi e voltou, esperando nunca mais ir novamente?
Nas últimas estrofes, o poeta sente vontade de ser menino novamente, de voltar ao ninho protegido, qual ave cujas asas ainda não estão preparadas para voar. Quantos de nós já desejou ser criança novamente? Voltar a estar nos braços da nossa ama, ou mãe, ou avó; aquele ser que nos acarinhou, nos protegeu, nos aqueceu nas noites frias, limpou nossas lágrimas em momentos de dor, acalmou-nos depois de um terrível pesadelo?
Pois, o sujeito poético como que acorda de um pesadelo, e necessita do conforto de sua ama, que o deu “o peito”, e pede o que o acalmará: “canta-me cantigas para me eu lembrar!…”, “canta-me cantigas de me adormentar!…”, “canta-me cantigas para me embalar!…”, “Canta-me cantigas de fazer chorar!…”, “Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!…”.
Por fim, o lar é neste poema ponto de partida, e o fim de tudo. É no seu lar que o sujeito poético nasce, e morre.
“Canta-me cantigas manso, muito manso…
tristes, muito tristes, como à noite o mar…
Canta-me cantigas para ver se alcanço
que a minha alma durma, tenha paz, descanso,
quando a morte, em breve, ma vier buscar!”
Recordemos a vontade de muitos de morrer em suas terras, e não em lugares de “enganos, decepções, pesar”. Pois o poeta vem “morto, morto!”, e quer recordar o seu “saudoso, carinhoso lar”, o seu “ninho estreito”, com “pedrarias de astros, gemas de luar”.
Análise estrutural
Este poema tem 6 estrofes, e cada estrofe é composta por 5 versos(quintilha).
O tipo de rima deste poema é rima cruzada (no 1º e 3º verso ) e rima encadeada (nos versos 2º com 5º e os versos 3º com 4º). A métrica deste poema é irregular.
Os recursos expressivos presentes são a adjetivação (classifica os sentimentos do eu poético: “Só achei enganos, deceções, pesar…” v.7, ” Oh, a ingénua alma tão desiluidida!..”v.8 e ” Trago d’ amargura o coração desfeito…”v.11) bem como a repetição (“Minha Velha ama”).
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