A poetisa
Sophia de Mello Breyner Andresen (Porto, 6 de Novembro de 1919 — Lisboa, 2 de Julho de 2004) foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX.
Foi a primeira mulher portuguesa a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Prémio Camões, em 1999.
Criada na velha aristocracia portuguesa, educada nos valores tradicionais da moral cristã, foi dirigente de movimentos universitários católicos quando frequentava Filologia Clássica na Universidade de Lisboa (1936-39) que nunca chegou a concluir. Colaborou na revista Cadernos de Poesia, onde fez amizades com autores influentes e reconhecidos: Ruy Cinatti e Jorge de Sena. Veio a tornar-se uma das figuras mais representativas de uma atitude política liberal, apoiando o movimento monárquico e denunciando o regime salazarista e os seus seguidores. Ficou célebre como canção de intervenção dos Católicos Progressistas a sua “Cantata da Paz”, também conhecida e chamada pelo seu refrão: “Vemos, Ouvimos e Lemos. Não podemos ignorar!”-
A poesia de Sophia fala da vida real, concreta das coisas. Celebra a ordem do mundo, a harmonia e o equilíbrio, e não se cansa de denunciar as injustiças e o sofrimento do mundo. Uma ideologia humanista e uma consciência política percorrem toda a obra poética de Sophia. As preocupações sociais surgem, constantemente, revelando a sensibilidade e a revolta perante o sofrimento do mundo. Daí o seu canto ser de luta, de denúncia contra o que designa de “tempo dividido”: de solidão e incerteza, de medo e traição, de injustiça e mentira, de corrupção e escravidão… Sophia considera o “tempo dividido” o tempo do comportamento humano – tempo marcado pelo ódio e pela ameaça constante, pela mentira, pela impureza, pela injustiça e pelo Mal – que se opõe ao tempo absoluto, transcendente – de harmonia eterna, da realização suprema do Homem, da verdade, da pureza, da justiça e do Bem.
A poesia de Sophia apresenta assim um papel formativo ao promover a consciencialização, surgindo como meio de denúncia e voz de anseios. O poeta, segundo Sophia, tem de procurar a “unidade fundamental da liberdade e da justiça”.
Sophia de Mello Breyner Andresen faleceu, aos 84 anos, no dia 2 de Julho de 2004 no Hospital da Cruz Vermelha. O seu corpo encontra-se no Cemitério de Carnide. Em 20 de Fevereiro de 2014, a Assembleia da República decidiu homenagear por unanimidade a poetisa com honras de Panteão. A trasladação do corpo para o Panteão Nacional realizou-se a 02 de julho de 2014.
O poema
Num poema marcado pelo escárnio, a poetisa portuguesa Sophia de Mello dirige-se àqueles que, arrogando-se a qualidade da sensibilidade, exploram o suor e o sangue de terceiros para atingir os seus objetivos; não são capazes de matar os animais, mas os comem.
Este poema, que integra o Livro sexto publicado em 1962, relata as diferentes situações sociais com que nos debatemos todos os dias (utilizando citações bíblicas ), tais como: as pessoas serem egoístas, desumanas, gananciosas, preguiçosas, aproveitadoras. O sujeito poético denuncia aqui a hipocrisia social que assume quatro formas: hipocrisia das pessoas sensíveis, denúncia da exploração do homem pelo homem, invocação e responsabilização dos cristãos fingidos que frequentam a Igreja mas não praticam os seus ensinamentos e a contradição entre o comportamento das “pessoas sensíveis” e os preceitos bíblicos. Denuncia quem come com o trabalho dos escravos, lembrando o versículo do Génesis:
«Ganharás o pão com o suor do teu rosto»
Assim nos foi imposto
E não:
«Com o suor dos outros ganharás o pão»
Neste poema é feita a denúncia da exploração social dos mais pobres. A expressão “as pessoas sensíveis” é irónica, pois as pessoas descritas ao longo do poema não são sensíveis em relação ao próximo, porque vivem da exploração dos que trabalham. É precisamente a utilização do advérbio conectivo “Porém”, com valor adversativo, na primeira estrofe, que evidencia a intenção crítica do sujeito poético em relação à hipocrisia das pessoas ditas “sensíveis”.
Na segunda estrofe, o sujeito poético denuncia as condições precárias em que algumas pessoas vivem, que só têm uma roupa que seca no corpo quer quando chove quer quando fica suada. Portanto, cabe aos pobres o trabalho de matar as galinhas para os ricos comerem, dando-lhes de bandeja o produto do seu trabalho. É por isso que “O dinheiro cheira a pobre” – expressão esta que subentende a crítica ao comportamento das “pessoas sensíveis” que desprezam o cheiro a suor de quem trabalha por elas e para elas.
Nesta linha de pensamento, o sujeito poético mostra-se contundente na terceira estrofe, quando denuncia inequivocamente a exploração dos trabalhadores humildes por aqueles que só pensam no lucro, como os “vendilhões do templo” invocados na quarta estrofe e todos aqueles que apregoam os valores defendidos pela religião, mas que vivem em função dos bens materiais. Relembrando a afirmação de Jesus Cristo no momento da Crucificação, “Perdoai-lhes, Senhor, porque não sabem o que fazem”, o sujeito poético procede a uma distorção destas palavras no último dístico do poema. Ao contrário da referência bíblica, estas “pessoas sensíveis” estão a ser julgadas por algo que fizeram conscientemente e, por isso, não há perdão para a sua falta de escrúpulos.
Sophia apresenta-nos uma poesia de grande fidelidade à realidade do mundo. Esta busca a ordem e o equilíbrio do universo. Poesia das origens, busca a ordem do mundo, a modelação do caos para a criação do cosmos, ou seja, da ordem e do equilíbrio do Universo.
A sua poesia estabelece uma relação com as coisas e com o mundo. A palavra assume-se como um agente de transfiguração da realidade que revela o divino e o terreno. Sophia criou uma literatura de empenhamento social e político, de compromisso com o seu tempo e de denúncia das injustiças e da opressão.
Análise estrutural
Estão presentes neste poema as seguintes figuras de estilo: metáfora (“O dinheiro a pobre e cheira”; “Ganharás o pão com suor do teu rosto”), a anáfora (“Porque…/porque…”, “Ó…/Ó…”).
Este poema é constituído por 5 estrofes, com métrica muito irregular. Na primeira estrofe temos uma quadra com rima cruzada; a segunda estrofe, com 9 versos (nona) não tem rima; na terceira estrofe deparamo-nos com uma quadra com rima emparelhada; na quarta estrofe mais uma quadra mas sem rima, e terminamos com um dístico (estrofe com 2 versos) mais uma vez sem rima.
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